Festival
Upload sob meus olhos
Oi! Estive presente nos três dias do festival e foi uma celebração
como se há muito tempo não se via. A produção
foi perfeita, o som e a acústica, sem contar que teve espaço
para todo mundo. Havia muita gente conhecida e houve uma grande união
entre as bandas. As minhas bandas favoritas que subiram ao palco da choperia
do Sesc Pompéia foram os Autoramas e os goianos pirados do MQN.
Na sexta-feira foi o melhor dia, onde as duas bandas entraram no palco
naquela noite. Entre uma música e outra dos goianos, os gaúchos
estrelinhas da MTV do BidêouBalde (inclusive o energúmeno
vocal, Carlinhos) gritavam e esperneavam como se há muito tempo
não tivessem visto um verdadeiro show de rock and roll. Para ser
um Pukkelpop brasileiro (o festival Pukkelpop ocorre todo ano no interior
da Bélgica e é considerado um dos melhores festivais de
música pop da Europa) faltaram os cariocas do Oh! Valerie, Leela,
os louquinhos do ...Mother Joan's e uma lista de bandas paulistas, Meltmen,
The Concept, Dropy (grande guitar band de Sorocaba), Ear Sick, Marshmallow
Pies, Hats, e os grandes mineiros do Space Invaders.
Uma banda que se destacou no festival e que surpreendeu a todos foram
os gaúchos do Graforréia Xilarmônica. A influência
da Jovem Guarda, misturando consciência da carga kitsch com adoração
genuína pelo movimento, o despudor em ser abertamente romântico
e a vontade de enfiar esquisitices nas músicas, enfim, todas as
características associadas ao "Rock Gaúcho" (a
gente sabe que não, mas vamos fazer de conta que é um gênero)
já eram apresentadas pela banda nos anos 80. Fez um belo show e,
sem comentários.
Autoramas
Gravando uma demo por conta própria, Gabriel teve nas mãos
o material para convencer Simone do Vale (Dash) - "já era
sonho antigo tocarmos juntos", confessa - e Nervoso (Acabou La Tequila)
a participarem em conjunto das próximas corridas. Canções
retrô-chiclete como "Tudo Errado" e "Eu Não
Morri" prometiam muito quando chegassem às pistas. Ainda mais
considerando o potencial do piloto responsável por dois hits gravados
pelos Raimundos: "I Saw You Saying" e "Aquela".
Depois de uma série de apresentações pole-position
por vários circuitos cariocas no ano de 1998, Nervoso abandona
o carro, sendo substituído por Bacalhau, que acabara de abandonar
o Planet Hemp. "Quando ouvi a fofoca, liguei para ele no ato. 3 dias
depois estávamos ensaiando", conta Gabriel. Mantendo o ritmo
volta a volta, os Autoramas recebem proposta de uma equipe com apoio de
ponta: o selo Astronauta, da Universal Music. O burburinho já tinha
aumentado a ponto de tornar "Catchy Chorus" um semi-hit na maior
festa alternativa do Rio, a Loud!, com público pagante médio
de mil pessoas por noite.
No início de 2000 sai Stress, Depressão E Síndrome
Do Pânico, um compêndio de ultrapassagens pelas curvas da
new wave, do punk e da surf music. As letras diretas e cruas são
consideradas quase auto-ajuda, segundo o próprio Gabriel: "é
estimulante poder extravasar as coisas escrotas fazendo uma coisa que
a gente ama", sentencia.
"Fale Mal De Mim" e "Carinha Triste" tiveram boa recepção
radiofônica, mas não o suficiente para tornar os Autoramas
uma aposta tão certa entre os torcedores quanto já eram
para a imprensa especializada. Mas a corrida continua: "sempre conseguimos
fazer bastante shows, lançar nossos discos de maneiras legais e,
assim, vamos fazendo nosso pé de meia", simplifica Gabriel,
sobre as imperfeições da estrada.
Sacudindo a poeira, deram voltas pela Tenda Brasil do Rock In Rio 3 e
gravaram em apenas dois dias o segundo álbum, Vida Real, lançado
em julho de 2001. Cada vez mais velozes, buscam subir de categoria e "passar
nossas idéias para cada vez mais gente, tocar melhor e em mais
lugares e o principal - continuar até que a morte nos separe",
como declara o "Sonhador" Gabriel, quase explicando uma das
pérolas do último trabalho. Agora é esperar O GP
Upload e torcer por essa e outras faixas de ponta, como "Eu Era Pop"
e a apropriada "Copersucar". "Estaremos no pódio,
derramando champagne na galera!". Autoconfiança é mesmo
com os Autoramas.
MQN
Carros, chapação, álcool e muito rock. O Brasil também
tem a sua resposta para bandas como Fu Manchu, Nebula e Queens Of The
Stone Age. Os goianos do MQN vêm machucando os ouvidos da massa
adepta ao barulho bem tocado desde 1997 e se encaixa muito bem com o que
a imprensa gringa rotula de stoner rock (rock chapado). "É
engraçado, o termo é culpa exclusiva da Bizz. Nebula é
legal, Fu Manchu é legal, mas temos outros lados, vocês vão
ver com o disco novo, que vai se chamar Hellburst (stoner?!)", conta
um resignado Fabrício Nobre, vocal da 'trupe' e um dos donos do
selo Monstro Discos de Goiânia. Guitarra distorcida ao máximo
para sustentar os pesados riffs, baixão encorpado, bateria seca,
rápida e vocal gritado em inglês. Isso tudo num volume absurdo.
O
MQN já abriu para lendas como Mudhoney ("isso foi um sonho",
fala um emocionado Nobre) e Buzzcocks, e outras nem tanto assim, casos
de Superchunk, Man... Or Astro Man? e Trans Am. Para manter a tradição,
os rapazes vão dividir o palco com o ótimo trio Nebula e
a barulheira do And You Will Know Us By The Trail Of Dead ainda este ano.
Em terras brasilis, os principais embates aconteceram nos festivais, Bananada
(1999, 2000, 2001), Goiânia Noise (4, 5 e 6), Circadélica
e Porão do Rock 2001 (onde encararam um público de 60 mil
pessoas). "As pessoas gostam do MQN, respeitam. Acho que somos uma
das principais bandas de rock no país hoje, pelo menos entre as
que cantam em inglês. Temos sido convidados para tocar em todos
os festivais e para abrir uns shows importantes".
De
volta dos EUA, onde a convite de Coco e Birdstuff do Man... Or Astro Man?
foram transitar por alguns clubes do underground, a banda cumpriu uma
missão muito salutar: gravar o material para o novo álbum
Hellburst. "Gravamos entre outras coisas uma versão de '13
Nights' do Monkeywrench. Quem nos cedeu a música foram Mark Arm
e Steve Turner (Monkeywrench / Mudhoney)".
Se
os meninos repetiram as performances dos shows já testemunhadas
por nós, os gringos chaparam. Vestimenta e luzes vermelhas especiais
te fazem, por um momento, pensar estar perto das portas do inferno. E
o carisma e a energia de Nobre contagiam qualquer um. Um último
recado do rapaz: "gostamos de rock, álcool e diversão.
Tocamos alto! Estamos loucos para tocar no UPLOAD!". Tocaram e fizeram
(e conseguiram) o melhor que puderam.
Matanza
O Alabama é o Rio de Janeiro. A Rota 66 é a Linha Vermelha.
O velho saloon vira o Bracarense. Troque o uísque caubói
por uma boa cervejinha e entre no espírito faroeste à carioca
do Matanza. O inspirado country-core da banda promete ser um dos grandes
momentos do Upload.
Formado em 1998, a banda é uma dissidência do Acabou La Tequila
e faz uma interessantíssima mistura de punk rock e country, com
pitadas de psychobilly e surf music, mais letras que parecem ter saído
das histórias em quadrinhos. E não é por menos. O
guitarrista Donida, principal compositor, é desenhista de mão
cheia: responsável pela parte gráfica de Santa Madre Cassino,
primeiro álbum da banda, e a arte de todo CD de rock legal de dez
anos pra cá do underground carioca. Casado com Simone, vocalista
e baixista dos Autoramas, também fez ilustrações
para o clipe de "Fale Mal De Mim".
As influências abrangem desde Johnny Cash até Willie Nelson,
passando por Reverend Horton Heat e The Cramps. O disco, que saiu este
ano pela Abril Music, é a trilha sonora ideal para uma noitada
regada a jogo de pôquer. O vocalista Jimmy London parece um redneck
entorpecido com gim cantando rock pauleira. Uma das pérolas do
CD é "Ela Roubou Meu Caminhão", que fala sobre
um ex-presidiário abandonado e roubado pela mulher. Com a faixa
título, a dúvida é saber se você deve cair
no pogo ou dança do honky tonky.
Garage Fuzz
Não à toa Garage Fuzz é uma das bandas independentes
brasileiras mais respeitadas no exterior. Começaram há 10
anos em Santos (SP) e poderiam ter parado diante das primeiras dificuldades
pra quem canta em inglês, mas nem quiseram saber: fizeram o que
tinha de ser feito. Martelaram, espalharam aos poucos seu nome e mantiveram
a mesma formação desde 1993. Partiram de um 'noise' cru
meio psicodélico para um som mais calcado no hardcore e no punk
com melodias muito bem trabalhadas.
Souberam achar os caminhos para se promover tanto no Brasil como no exterior.
Enquanto mandavam suas demos para zines, revistas e gravadoras especializadas
no exterior, tocaram em várias cidades brasileiras, incluindo alguns
festivais. Abriram para bandas como Seaweed (com quem fizeram 10 shows),
Sick Of It All, All You Can Eat, No Fun At All, Shelter, Fugazi, Lag Wagon,
Man... or Astroman? e Down By Law.
Gravaram várias demos e o primeiro CD pela Roadrunner (Relax In
Your Favorite Chair, lançado em 15 países). Apareceram na
100Trifuga (coletânea da revista 100% Skate Magazine), lançaram
no Brasil o EP Confortable Dimensions For Suitable Structures pela Spicy
Records e logo em seguida foram contratados pela One Foot Records, que
lançou seu segundo disco (Turn The Page... The Season Is Changing)
nos EUA e Europa.
Thee Butcher's Orquestra
Tente achar um trio melhor que esse no território nacional. Tarefa
complicada. Banda nada ortodoxa, utilizando a formação inusitada
e barulhenta de duas guitarras e bateria, os açougueiros Marco,
Adriano e Rodrigo deferem petardos que vão contagiar até
aqueles contaminados com a doença do sono.
Formado na garagem do quartel general do selo Ordinary Recs. e mantendo
a mesma formação desde 1998, o grupo sempre mostrou que
a maior preocupação é a música pela música.
Trilhando um caminho independente de festivais em todos os cantos do país,
shows no circuito alternativo de São Paulo, e abrindo para bandas
como Demolition Doll Rods, Make-Up e Superchunk (quando invariavelmente
eram bem mais apupados que os gringos), os rapazes vão amealhando
novos seguidores em cada apresentação. Aliás, nada
melhor que a experiência alucinante de pegá-los ao vivo.
Vestimentas absurdas (quem se esquece do show na Funarte ano passado em
que o figuraça Adriano tocou só de sunga listrada?), comportamento
esquizofrênico, histeria, energia a dar com pau e até um
cuspidor de fogo são só alguns detalhes presentes nas apresentações
dos caras.
Uma turnê por algumas cidades americanas na companhia ilustre dos
fantásticos Gas Hufer, D.D.R. e All Scar (novo projeto do James,
ex-Make-Up) iria ocupar boa parte da agenda do mês de outubro da
banda, mas, infelizmente, teve que ser adiada por causa dos atentados
terroristas nos Estados Unidos.
Agradeço a grande colaboração da assessoria de imprensa
do festival, em especial Fábio Sooner, Marco Bezzi, Fábio
Bianchini e Flávia Durante (créditos).
Beijos e até mais
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