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Banda: ROGÉRIO SKYLAB
Data da entrevista: novembro 2002
Entrevistador: Raphael Rodrigues (Alternative Noise)
Entrevistado: Rogério Skylab
Cidade/Estado: Rio de Janeiro

01)Para começar, qual a origem do nome Skylab?
SKYLAB nasceu de um samba: "O Samba do Skylab". O meu primeiro samba e com o qual eu ganhei o primeiro lugar num festival em Palma (MG), onde foi produzido atualmente o GREEN ROCK. É curioso que a minha primeira composição tenha sido um samba. Eu tenho a impressão que tudo que eu faço - rock, funk, rap, ska...(o meu trabalho é uma confluência de estilos) no fundo no fundo, é sempre uma coisa só: SAMBA

02)O seu primeiro lançamento foi "FORA DA GREI" no ano de 1992, fale um pouco sobre ele e de que forma você o analisa nos dias de hoje?
FORA DA GREI é um vinil totalmente anacrônico - chegar a machucar os ouvidos. É engraçado ver a cara das pessoas quando o ouvem. Imagine a reação de um sujeito chegado ao que há de mais "vanguarda" música
eletrônica, baixo saturado, programação de bateria, efeitos de voz à la STROKES, SONIC YOUTH... e ouve essa excressência. Eu penso fazer uma nova tiragem só
de sacanagem.

03)Você já recebeu diversas críticas sobre seus cds,
no release no site oficial encontramos essas:
"é um disco inteiramente à parte da massa amorfa
despejada pelas rádios de sucesso"
"Seu Heavy Metal funciona em conjunção com o violão
típico de uma seresta de Sílvio Caldas. Bizarro,
caricato, maldito, genial?".
Você é o seu principal crítico ou gosta de ler e
escutar outras opiniões, mesmo que contrárias ao que
se espera. Você já leu alguma crítica ruim sobre seus
trabalhos, mas que no fundo foram melhores do que
simples elogios?

Gosto de ler as críticas dos outros - se for negativa, passo mal, fico doente mas leio até o final. Em verdade, eu devo te confessar que tenho muitos admiradores em fanzines e mesmo na imprensa oficial.
Mas isso não é crítica, é admiração. Até hoje eu sinto falta de uma análise concreta sobre o meu trabalho (não é falar mal nem falar bem, é analisar). Tem um idiota
em Brasília que não analisou, fuzilou. Mas escreveu uma frase genial:
"esse Rogério Skylab desafina mais do que Herbert Viana sem tutano". Eu peguei essa frase e tranformei em música. Mal sabia ele que ao meu fuzilar, ele
estava sendo totalmente SKYLAB.

04)Voltando um pouco no tempo, fale um pouco sobre a
época do Setembro Negro.
SETEMBRO NEGRO é o "faça você mesmo" dos punks. Foi fundamental na minha carreira. Justamente agora em que os produtores fonográficos se tornaram as
grandes vedetes do show business, o "SETEMBRO NEGRO" é quem me afaga, a memória que me tranqüiliza e diz: continua o teu caminho.

05)Fale um pouco sobre a frase "a inspiração vem da
inércia". Como você encara esse fato de idéias para
compor? Você tem facilidade para escrever músicas e
poesias? Qual o seu processo, seu tempo?
Pelo visto você andou realmente lendo minhas entrevistas. A inércia é a minha essência: contra o Homem de Negócios, o ócio. Desde criancinha: eu
deitava na cama e fica imaginando um jogo de futebol; e ficava irradiando como Valdir Amaral - o grande locutor da minha infância. Eu não tenho dúvidas: o germem da música e da poesia estava aí - DEITADO NA CAMA,
irradiando uma partida de futebol imaginária.

06)Se eu abrir seu cd player agora, quais cds irei
encontrar? Faça um comentário sobre eles.
Os meus Cds são o samba do crioulo doido. Você vai encontrar o cd do SONIC JR, quase todos do SONIC YOUTH, o primeiro CD DO PINK FLOYD que é o que há de mais pirante que eu já ouvi em toda a minha vida - pena que o carinha ficou maluco - , vai encontrar também "BOMBA ATÔMICA" do Daminhão Experiença, CLARA CROCODILO , TUBARÕES VOADORES E GIGANTE NEGÃO do eterno Arrigo... RATO QUENTE do Frank Zappa, do qual eu fiz uma colagem no SKYLAB III...e por aí vai. Psicodelismo na cabeça.

07)Quais são suas bandas, cantores e poetas
preferidos?

Não posso deixar de citar MARCELO BIRCK - esse gaúcho é du caralho!!!!!

08)Qual foi o show mais marcante para você? Fale um
pouco sobre ele.
O show mais marcante da minha vida foi um que não teve: não tinha público suficiente. Só tinha minha namorada, a irmã da minha namorada e o filho
da minha namorada. Mais ninguém. Juro. Eu queria fazer o show assim mesmo mas não me permitiram.
Me lembro também de um show que só tinha uma pessoa: um homem. Estava sentado na mesa sozinho - todas as demais mesas estavam vazias. Na época, eu me perguntava: quem será aquele maluco? Esses
foram os shows que mais me impressionaram justamente porque não aconteceram. Mas graças a Deus, isso já faz muito tempo.

09)Qual a sua opinião sobre a cena independente no
Brasil hoje? Quais bandas vc curte?
Em relação a cena independente da qual eu me considero integrante, eu queria falar uma coisinha. É algo que eu venho pensando ultimamente.
Veja bem: produtor cultural pode ter ideologia... até acredito que tenha.
Mas quando ele faz um festival, um show, ou sei lá o que, além de supostamente ele gostar do que faz, ele quer ter lucro. É ou não é? Sem meias palavras,
ele quer ter lucro, se não, inviabiliza o que ele faz.
Ora, tudo isso eu entendo. O que eu não entendo, é ele fazer um festival, chamar uma banda independente, não pagar nenhum cachê e a dita cuja da banda aceitar
tocar de graça ou até pagar.
Eu vejo uma sordidez em tudo isso porque o nosso grande objetivo, enquanto independente, é viver do que a gente faz. A pretexto do festival ter uma certa ressonância, e a banda não ter gravadora, aceita-se
esse negócio sórdido que prejudica todos nós. A minha luta a partir de agora vai ser nesse sentido: não é por ser independente que neguinho vai cagar em cima.
Pelo contrário: hoje o cenário independente é mais
interessante que o oficial. Cite uma banda com gravadora? - Tianastácia.
Sem gravadora? Videohits. Quem é melhor? Videohits.
E por aí vai.

10)Fale um pouco sobre a "faca" que é citado em seu
site como elemento primordial .
Eu gosto da faca. É uma questão de preferência. Nietzsche preferia o martelo - com ele o alemão dava porrada e arrebentava tudo.
Eu já não sou tão violento assim. Com a faca eu vejo o que está por trás da pele, com ela eu posso verificar o funcionamento do corpo humano. É coisa de cientista
maluco.

11)Fale um pouco sobre o novo cd, Skylab 3.
Composições, arranjos, arte final do cd...
Você gostou? Essa é a pergunta que eu mais gosto de fazer. O "SKYLAB III" pra mim é uma incógnita: eu já amei e já odiei.
Um coisa é certa: nesse disco eu privilegiei o conceito. No anterior, eu privilegiava o sucesso - era um disco certo. No III eu me arrisco mais: está cheio de fantasmas, de mortos-vivos. Nesse sentido, é um disco de terror.

12)Como foi a repercussão das suas aparições no
programa do Jô Soares? Você particularmente gostou da
entrevista?
Em relação ao JÔ, eu só tenho a agradecer a boa vontade dele.
Aliás, eu acho que a TV é um caminho interessante para os independentes. Melhor que o rádio..
Na TV você ainda encontra brechas e tem o efeito de uma bomba atômica. O rádio não. Tá todo bichado, viceja a corrupção.
O Lobão está absolutamenrte certo.

13)O que você achou do resultado final do "Tributo ao
Inédito" e o que você acha dessa união das bandas
independentes para lançar cds sem ter uma grande
gravadora por trás? Para que realmente servem as
grandes gravadoras na sua opinião? São fundamentais?
Em relação ao Tributo, eu digo e repito: tem prós e contras.
Um ponto positivo: a união de bandas completamente diferentes uma das outras - é a idéia positiva da diferença.
Um ponto negativo: a produção feita a toque de caixa - algumas bandas estavam com um volume lá em cima, outras com o voluma lá embaixo.
Mas no final das contas o saldo foi positivo.

14)Quais são seus próximos planos? Clip? CD? Turnê?
Meu próximo passo é a produção do "SKYLAB IV", que aliás já está gravado, e vem atender o pedido de muitos fãs: gravar as músicas que eu venho tocando nos shows (o que não aconteceu com o "SKYLAB III").

15)Espaço livre para deixar um recado, fique a
vontade.

Por causa dessa entrevista, já são 03:30 da manhã e eu acordo às 06:00 para trabalhar.
Recado final? Eu não tenho nenhum recado. Vou tocar aí
em São Paulo dias 23 e 24/11 - coisa raríssima de acontecer. Aliás eu tenho feito muito poucos shows, não por falta de vontade, mas por falta de grana das produções culturais.
Nos meus shows eu saio todo arrebentado - e tenho
feito isso praticamente há uns dez anos. Então pra mim isso não é uma brincadeira ou um puro entretenimento. Existe uma idéia muito em voga hoje em dia de privilegiar o entretenimento.
A minha volta proliferam bandas pops que adoram Roberto Carlos. PUTA QUE PARIU!!! Eu tô fora dessa meu
irmão.

Discografia:
- Fora da Grei (1992)
- Skylab (1999)
- Skylab II (2000)
- Skylab III (2001)