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Banda: PULLOVERS
Data da entrevista: fevereiro 2002
Entrevistador: Raphael Rodrigues (Alternative Noise)
Entrevistado: Luiz - guitarra e voz
Cidade/Estado: São Paulo

1) Quem é quem na banda e o que cada um toca?
Bom, eu canto e toco guitarra (nesta ordem), a Ana toca baixo e canta
(nesta ordem), a Marianne toca guitarra e canta (nesta...) e o Daniel toca bateria.

2) O que significa Pullovers, como surgiu o nome da banda?
A princípio, a gente não gostava muito da idéia de um nome tipo "os alguma coisa"... Pensávamos em um nome curto, tipo "Wry". Pensei em "Pimple", mas achei muito adolescente. Aí pensei em "Technicolor", mas veio o disco dos Mutantes (não queria que fizessem a referência imediata). De qualquer
forma, o nome não seria nenhum destes, porque ninguém da banda gostou... Então
apareceu uma amiga nossa com "Pullovers". Não me lembro bem, mas acho que as
meninas gostaram e o Daniel não muito. Eu, nem um pouco. Depois de um tempo,
as meninas passaram a gostar mais ainda do nome, o Daniel começou a "suportá-lo" e eu também. Bom, também lembramos de umas coisas: de uma espécie de tradição das bandas punk de se chamar "os alguma coisa"
(exemplo óbvio: Ramones), de muitas bandas underground brasileiras (talvez por causa
do próprio punk, várias se chamam "os alguma coisa" - "Cigarettes", "Mickey Junkies", "Forgotten Boys"...) e de um amigo meu, que me chamava de nerd e dizia que o hino do "Nerd Rock" era "Undone – the sweater song", do Weezer. O cara me via e já ia tirando a blusa, cantando "...to destroy
my sweater...". Aí comecei a ver qualquer tipo de suéter como símbolo de "nerd rock". Bom, um pulôver é ainda mais nerd do que um suéter. E tem a vantagem de ser uma palavra quase igual em português e inglês. Depois de algumas semanas todo mundo já tava gostando do nome.

3) Quais são as influências da banda e o que vocês andam escutando ultimamente?
As influências imediatas são aquelas básicas (pra não dizer clichês) e bem fáceis de se descobrir: Velvet Underground, Guided by Voices, Delgados, Vaselines, Pavement, Sonic Youth... Mas o mais legal mesmo são as
referências "obscuras" (se é que temos algum "diferencial" - que termo horrível! - ele vem delas)... Eu, por exemplo, tenho ouvido muito Frank Sinatra (pra ver se aprendo a cantar), o Daniel, música eletrônica, etc.

4)A banda já teve outras formações, a proposta é a mesma desde o início?
Nossa formação é a mesma desde o início. Ainda bem, por causa do aspecto
musical e do afetivo. Pra falar a verdade, não consigo nos ver tendo a alegria que temos em tocar e nos divertindo tanto se não fôssemos os 4.

5) Fale um pouco sobre "you don't know how sweet you look like".
Como a gente conta nos nossos releases, fiz essa música sem que me passasse pela cabeça a idéia de ter uma banda. Foi uma coisa típica de um travado, do cara que não tem coragem de falar com a menina e faz uma música...
Acho que por isso a letra é tão comprida... Eu tinha muita coisa pra falar pra ela (nada tão original que ela não pudesse perceber só de olhar prá minha cara, obviamente). De qualquer forma, foi a primeira música que tocamos juntos, que gravamos e... Também gostamos dela até hoje porque, quando
começamos a tocar juntos, descobrimos que não só eu, mas os 4 eram muito tímidos e poupavam os seus "musos" de ouvir coisas de que eles talvez até gostassem...

6)Vamos voltar um pouco no tempo, descreva como foi o primeiro show de vocês.
Foi no Alternative da Vila Madalena, abrindo pro Fish Lips (com quem a Marianne tocava) e substituindo o Cigarettes, que não pôde vir do Rio.
Bom, só o fato de começar substituindo o Cigarettes já foi uma honra...
Quanto ao show, a Marianne lembra bem que eu tremia tanto que nem conseguia acender um cigarro. Então começamos a tocar, é óbvio que errando quase tudo, mas o povo estava inacreditável... Todo mundo pulava e a gente nem acreditando...
Queria poder mandar um cartão de Natal todo ano pra quem estava naquele show
(Gilberto Custódio, Márcio Custódio, Tati, Gisele, Camila, Roger, Ronaldo da Bizarre, Adriano do Butcher's...), foi como um passaporte dizendo: é isso aí, vocês precisam tocar melhor e ensaiar uma 12 horas por dia, mas a coisa tá ficando legal.

7) Como foi a gravação da primeira demo, "Teenage Darling"? Fale um pouco das músicas nela contidas.
Gravamos no estúdio Quadrophenia, do Sandro Garcia (Momento 68 e ex- Charts), ao vivo e em Tascam (fita cassete, 4 canais). Pra alguém que não está acostumado com o underground, pode parecer impossível fazer alguma coisa decente nesse esquema de gravação, mas o fato é que não nós, mas o Guided By Voices gravou seus melhores discos assim. De qualquer forma, preferimos fazer com o Sandro, que conhecia o nosso som, do que com algum
técnico mal-humorado de estúdio caro. E também nem tínhamos dinheiro mesmo.
Quanto às músicas, a fita tem "Korea Lamen", "Teenage Darling", "Basement Song", "You don't know...", "She's 30 and so..." e "I'm not a nazi".
Regravamos 3 da demo no "Pullovers can't play covers" por que o Adriano e o Marco do Butcher's, que produziram, nos convenceram.

8)Como surgiu a história do apelido de "fofinhos"?
Surgiu de uma menina em um show. Mas se espalhou mesmo com uma matéria que saiu na Showbizz. O jornalista me perguntou: "Como você definiria a banda?"
Respondi que alguns amigos nos chamavam de "banda fofinha", mas que odiávamos o rótulo. Resultado – título da matéria: "Underground
Fofinho". Mas tudo bem, depois passamos a gostar do Zé Flávio (sempre o encontramos na noite), assimilamos o apelido e estamos até tirando uma onda com essa história.
No Musikaos, por exemplo, resolvemos fazer uma "versão fofa e açucarada" do clássico "Papai Noel, Velho Batuta" dos Garotos
Podres. É óbvio que cantamos "filho da puta", pra não perder a oportunidade de falar
palavrão na televisão.

9)Vamos falar sobre o primeiro cd de vocês,"Pullovers can't play covers", por quê este nome?
Por causa do próprio disco, que não é um disco "fechado", com muita unidade ou conceito, mas um panorama geral das nossas primeiras músicas;por causa da inspiração nas riminhas do Pavement ("Slanted and Enchanted", etc);
e porque realmente não temos a menor capacidade de tocar decentemente um cover.

10)Fale sobre as músicas contidas no cd, letras, composições, gravações em estúdio e também a capa do cd. Faça um raio x do cd hehe O resultado final foi o que vocês esperavam?
Bom, não podemos falar em estúdio porque gravamos numa garagem, a não ser as
vozes (os violões e o cello foram no banheiro). Das 16 músicas que gravamos, umas 6 já estavam no repertório desde o nosso primeiro show. Outras vieram depois do lançamento da demo... Portanto, como eu já disse, o disco
funciona mais como uma panorama geral das nossas primeiras músicas do que como
um "disco de conceito", com grande unidade e tal... É óbvio que há alguma unidade se levarmos em conta o ultra-romantismo das letras, os arranjos, as melodias, as guitarras, etc, mas esta unidade é mais uma questão do
estilo da banda do que alguma coisa pensada pra um disco específico.
Quanto ao resultado final, foi bem satisfatório, apesar de algumas coisas que hoje faríamos de outro jeito. Mas isso todo mundo fala.
Quanto à capa, fizemos questão de aparecer nela. É engraçado, muitas bandas
underground têm vergonha de mostrar a cara na capa do disco, como se isso fosse coisa de gravadora grande... Na verdade, hoje em dia acho que os truquezinhos de layout de computador ficaram tão batidos que pouca
gente consegue fazer alguma coisa que não fique com cara de "acabou de sair do
Ilustrator, do Corel Draw ou do Page Maker". Então resolvemos fazer como
nos anos 60/70, foto da banda na capa. A ambientação num parque tem a ver com o clima de algumas músicas, tipo "Morning Come".

11)O cd recebeu vários elogios de fanzines, revistas e sites, vocês esperavam essa boa recepção ou foi uma surpresa?
Foi uma grande (e boa) surpresa no sentido de sermos uma banda tão pequena e termos recebido algum respaldo de veículos grandes, como jornais. Mas, sem rasgação de seda pro seu lado, também gostamos muito de ter lido coisas interessantes (não necessariamente elogios) em sites e zines especializados,
porque em muitos casos o pessoal que faz zine e site de maneira independente é tão interessado em música e competente quanto muitos jornalistas mais famosos.

12)Cite alguns sites que vocês acham interessantes, não precisam ser só sobre
música.

Essa eu pulo. Mas o Daniel e a Ana ficam o dia inteiro em sites de sexo com animais.

13) Quais bandas do underground nacional vocês mais gostam, cite algumas.
Vou citar 4 bandas que tem sangue nas veias e não ficam tocando com cara de bunda (tenho que admitir que fazemos muito isto, principalmente eu, mas dê um desconto, é timidez mesmo): Forgotten Boys, Thee Butcher's Orchestra, Polara e Walverdes. Ah, também adoramos bandas menos "Rock n’ roll", mais calmas mas também com "sangue", tipo o Tamborines, de Maringá.

14)Quais os futuros planos da banda?
Dizer "gravar disco e fazer shows" seria muito preguiçoso da minha
parte?..

Discografia:
em breve!