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Banda: JERKS
Data da entrevista: janeiro 2001
Entrevistador: Raphael Rodrigues (Alternative Noise)
Entrevistado: André - vocal e guitarra
Cidade/Estado: São José dos Campos/SP

1) Quem é quem na banda e o que cada um toca?
Dáphine Ribeiro - bateria
Selma Vieira - baixo e voz
André Dias - guitarra e voz

2) Como surgiu o nome Jerks e fale um pouco das formações que a banda já teve?
Veio de uma música do Daizy Down, do primeiro disco deles. O nome foi sugerido pelo Toninho e a gente aceitou porque é um nome simples, forte e irônico. Acabou pegando como nome para o mascote da banda, um elfo parecido com elefante, verde com manchas cor-de-abóbora pelo corpo, que vive num lugar chamado Just Fire. Quanto à formação, a única mudança aconteceu logo nos primeiros meses da banda, quando a Selma substituiu o Wellington no baixo. Isso foi em 1994.

3) Qual a diferença entre o som atual, e o som que a banda fazia no começo? As influências mudaram?
Logo que começamos, tocávamos punk rock, que era o que a gente mais ouvia. Começamos fazendo covers dos Ramones. Eu estudava com a Dáphine na 7a. série e ela ficava levando as fitas dos irmãos dela, que na época tocavam no Plebiscito (hoje Daizy Down), com Garotos Podres, Cólera, etc. Com a entrada da Selma, as músicas foram ganhando mais melodia. Foi na mesma época que comecei a ouvir mais outros tipos de som além de punk rock. Gravamos a primeira demo-tape em 1995. Nela dá para perceber influências de Lemmonheads e Teenage Fanclub. Depois disso veio a coletânea "...Of Noise", lançada em 1997, com 3 músicas nossas, ainda no esquema da demo, dando valor à melodia nos vocais e arranjos de guitarra. Ouvindo nossas músicas hoje, o estilo não mudou, mas a diferença é que estamos mais confiantes, algumas músicas estão com mais peso e passamos a mesclar algumas músicas em português no repertório. As músicas variam dos vocais melódicos e calmos da Selma, às distorções de guitarra e baixo. Influências de Sonic Youth, Beatles, Nirvana e bastante Pixies.

4) O que cada um da banda anda escutando ultimamente?
André - Frank Black, John Lennon, Stoogies, Velvet Underground, Mutantes, Plebe Rude, Sonic Youth, Butchers Orchestra, Elegia, Mary Help, Weezer, Garbage, Morphine, Inocentes, MQN, Vermelho 40, Pelvs, Angelfish, Autoramas...
Selma - Smashing Pumpkins, Breeders, Pato Fu, Cramberries...
Dáphine - Weezer, Radiohead, Pixies, Lemmonheads, Hole, Spinanes, Red 5 e Frank Black.

5) Como anda o espaço para tocar em São José e região?
Em São José está meio difícil... quase não tem lugar para show a não ser o Sesc, que tem promovido um projeto exemplar, o Radar, que é uma grande chance para as bandas daqui se mostrarem e uma das únicas opções na cidade para o público rock. De vez em quando rola alguma coisa no Cine Santana e no Centro Cultural Chico Triste também. Há umas três semanas abriu um novo bar no Monte Castelo que tem dado espaço para bandas de rock, o House Rock Café. Tocamos lá semana passada e foi legal, tomara que dê certo, São José está necessitando urgentemente de um lugar assim. São José é uma cidade relativamente grande e tem muitas bandas boas, mas não existe lugar para tocar, os bares e casas noturnas não abrem espaço para outros estilos de música senão os da "moda" atual. Em Caçapava tem o Posso! Skate Bar, que eu considero o melhor bar da região. Para mim os melhores shows que fizemos foram lá. E está melhorando cada vez mais, as pessoas saem de São Paulo e de várias cidades para ir aos shows lá. Em Taubaté, Caçapava e Pinda sempre rola alguma coisa. Há umas semanas atrás tocamos num bar em Tremembé e também foi bem legal. Isso é que eu não consigo entender, uma cidade pequena como Tremembé tem um lugar legal, bem organizado e uma galera legal, enquanto em São José que é uma cidade grande, quase não existe lugar para bandas de rock.

6) Sobre a coletânea "Airplane of noise 2" só com bandas de São José, como surgiu a idéia e fale um pouco sobre as faixas do Jerks neste cd?
Na verdade a idéia surgiu há alguns anos, com a primeira coletânea "...Of Noise!", que saiu em 1997. Como na época era ainda mais difícil para uma banda bancar um cd independente, nos unimos e fizemos um cooperativa, onde cada integrante de cada banda pagava uma mensalidade, até conseguirmos a grana suficiente para a prensagem. Neste volume dois foi um pouco diferente: a prensagem foi rateada entre as bandas mas as gravações foram por conta do então recém-nascido selo "Airplãine Of Noise!", do Toninho Ribeiro (Daizy Down) e Marcelo Dangelo (Elegia), também do estúdio Hocus Pocus. As faixas: Nós já tínhamos começado as gravações para o nosso cd quando surgiu a idéia da segunda coletânea, por isso pegamos as quatro que já estavam mais adiantadas para colocar na Airplane. As quatro estão no nosso cd, mas com algumas diferenças, praticamente são outras versões. Só uma observação para quem tem a coletânea: na contracapa houve um erro de gráfica e duas músicas nossas acabaram sendo invertidas; a ordem correta na verdade é: 15-Don´t Worry e 16-Sleeping

7) Vendo a página oficial de vocês, percebi que um dos releases foi escrito pela Débora Morais ( Plastic e Vermelho 40, tb bandas de são josé). Qual a relação entre as bandas da cidade e fale um pouco sobre elas?
A Débora é uma grande amiga nossa. Ela também canta no Vermelho 40. Em todas as bandas do selo Airplãine of Noise! o pessoal é, acima de tudo, amigo. Pode-se até dizer que é uma grande família (e de fato grande parte é mesmo), todos se conhecem há muitos anos, frequentamos as mesmas escolas, crescemos juntos e hoje estamos trabalhando juntos para fortalecer a cena independente do país. Fora as do selo também têm outras bandas de amigos como o Massa Crítica, Harsh, Love Loud, Seven Years, Mestiço Oca, Gestalt, White Liers, Patrulha Noturna, e várias outras. É muito bom poder contar com a amizade de tantas bandas, afinal, se a gente não consegue ganhar grana, pelo menos se diverte bastante. E tem ainda muita banda por aqui que a gente não fica conhecendo, mesmo pela dificuldade para se fazer um show ou gravar uma demo. Fica aqui o convite para o pessoal destas bandas entrarem em contato para trocarmos idéias.

8) Continuando na página de vocês, no local onde mostram as matérias da banda que saíram na mídia, cada um define o som da banda de uma forma diferente, mas todas de forma positiva, elogiando o som. Essas críticas, sejam boas ou más, chegam a influenciar de alguma maneira o Jerks ou não?
É muito importante para a gente saber qual a impressão que nossas músicas causam nas pessoas. Para mim uma das coisas mais interessantes em compor é saber a reação que as os outros têm quando ouvem a música, mas essas reações quase nunca influenciam na próxima composição. Se alguma música nossa receber uma crítica ruim, não vamos mudar nada por causa disso. Da mesma forma que, se uma música nossa agrada bastante, não é por isso que vamos fazer mais um monte de outras iguais. Claro que se você disser, ah eu acho que você deveria fazer assim, ou não deveria fazer isso, e se eu achar que você está certo, que isso vai ser legal, certamente vou aplicar a idéia, mas geralmente as críticas não nos fazem mudar. A única restrição que temos ao compor/tocar alguma música é que nós três temos que gostar dela. Eu não tocaria nada que eu não goste só para agradar alguém.

9) Qual o ponto de vista da banda sobre os processos de Metallica e Madonna contra o programa de mp3 Napster?
Totalmente a favor. Não entendo estas bandas grandes que já estão com o * cheio de grana fazendo de tudo para acabar com o Napster.

10) Qual a ligação do Jerks com a internet, mp3, e divulgação virtual? Só existem pontos positivos ou vocês citariam algo negativo na web?
A internet tem sido um mundo maravilhoso para as bandas. Conhecemos pessoas, bandas, fanzines, revistas etc. de lugares tão variados que provavelmente nunca chegaríamos a conhecer. E também o inverso: tantas pessoas de tantos lugares visitam nosso site, ouvem nossas músicas e se correspondem com a gente e isso seria bem mais difícil sem a internet.

11) Como foi a experiência de ter tocado com o pessoal do Autoramas, Bacalhau (ex-Planet Hemp), Simone (ex-Dash) e Gabriel (ex-Little Quail)? Vocês continuam em contato com eles?
Cara, foi muito bom. Eu já tinha ouvido falar bastante sobre eles mas nunca tinha tido a oportunidade de ouvir as músicas. Naquele show rolou um lance raro de se identificar com as músicas deles e deu para perceber que eles também curtiram as nossas. Além de serem hoje, na minha opinião, a melhor banda do rock nacional atual, os três são pessoas muito legais e merecem o sucesso que estão fazendo. Na época do show eu mal conhecia a banda, hoje estou viciado no cd. Nós continuamos em contato sim.

12) Fale um pouco sobre o primeiro cd da banda que está para ser lançado. Existe alguma participação de outra banda ou músico?
O cd está pronto na fábrica e quando esta entrevista for publicada provavelmente já estaremos com ele em mãos. Como este é o nosso primeiro cd e a banda já tem mais de 6 anos, foi legal trabalhar músicas que nem tocávamos mais e que resolvemos gravar, ao mesmo tempo que terminamos músicas novas já dentro do estúdio. Outra coisa legal é que tudo ficou bem espontâneo, desde arranjos improvisados até barulhos que rolaram durante a gravação, a gente deixou tudo no cd. Mas não quer dizer que foi algo feito de qualquer jeito, mal-feito, pelo contrário. Tivemos participação de vários músicos de outras bandas, como na música Just Fire, com Emerson (Elegia) tocando violino. Em Hey You, o Eduardo (Mary Help) fez os backing vocals. Além disso, em várias músicas contamos com arranjos de guitarra por Cris Ribeiro e Marcelo Dangelo e teclados por T.Ribeiro.

13) Fale um pouco sobre a coletânia virtual da London Burning em que vocês participam com a faixa "Just Fire". Como surgiu esta oportunidade?
O London Burning é um selo virtual criado pelo jornalista Luciano Vianna, com objetivo divulgar as bandas do underground brasileiro. Ficamos sabendo que estavam selecionando bandas para a segunda coletânea aí mandamos material que foi escolhido para fazer parte. No site tem muita coisa legal. Para quem quiser conferir, o endereço é: www.londonburning.cjb.net

14) Quais são os próximos projetos da banda?
No momento estamos correndo atrás de shows, procurando lugar para tocar e, assim que o cd chegar vamos mandar para as revistas, fanzines, fazer a maior divulgação possível.

15) Qual a opinião de vocês sobre:
a-Rock in Rio 3:
"A música não importa, o importante é a renda", já dizia Plebe Rude há 10 anos atrás. Parece que não mudou nada.
b-Clubbers: Moda... isso passa... mas não faz diferença para mim...
c-Cena independente brasileira: Parece que as coisas estão melhorando, mas falta iniciativa das pessoas, falta o público ler mais fanzines, comprar mais fitas e cds independentes, comparecer mais aos shows. Este tipo de cultura ainda está fraca no Brasil.
d-MTV: Não tenho em casa, quase não assisto.

16) Deixem um recado e aproveitem este espaço para falar mais alguma coisa! Espaço livre!!!
Muito obrigado Raphael pelo espaço e pelo apoio que você tem dado às bandas.
E a todos: vamos ler mais fanzines, comprar fitas e cds independentes, frequentar os shows. Muita gente reclama que a mídia não nos dá opção de escolha, pois vamos criar a nossa própria! Rock e paz para todos!!!

Discografia:
em breve!