1)
Qual a formação atual do Dance
Of Days?
Nenê
Altro - Atualmente o Dance of Days sou eu no vocal, Marcelo na Guitarra,
Tyello na outra guitarra, Júlio na bateria e Fausto no baixo.
2)
Por quantas formações a banda já passou?
Nenê Altro - Ixe Raphael, sei lá, umas
8 ou 10... Não sei direito.
3)
De onde surgiu o nome da banda? De quem foi a idéia? Vcs chegaram
a pensar em outro nome, qual?
Nenê Altro - Quando eu idealizei o projeto
a idéia era fazer algo que soasse como um cruzamento entre Embrace
e Endpoint... Estas talvez sejam minhas bandas preferidas até hoje.
O nome Dance of Days vem de uma música do Embrace chamada Dance
of Days ( ah, o Embrace é aquela banda punk de Washington DC, não
a eletrônica Inglesa). Tinha uns outros nomes na fita... um era
YEANBP, que era uma sigla que significava Your Emotions Are Nothing But
Politics, que também vinha do Embrace... mas o bom senso falou
mais alto e o nome que escolhemos ficou bem mais bonito hahahahaha
4)Falando
sobre suas outras bandas Nenê, faça uma comparação
entre elas, Personal Choice, Overcome, Sick Terror, Bastard in Love, Awkward
e Dance...Esqueci alguma hehe?
Nenê Altro - Esqueceu umas 15 de antes do
Personal Choice. Sei lá cada banda teve sua época, sua fase,
ou melhor, representou alguma fase de minha vida. O Personal foi uma banda
que eu curti pra caralho... mas teve seu tempo. Hoje eu não montaria
outra parecida. Algumas das músicas que o Personal começou
tocando vinham de uma outra banda que eu tinha antes chamada Repulsive,
que também carregava músicas de bandas anteriores... Overcome
durou poucos ensaios, foi meio um projeto também, meio Worlds Collide...
mas não saiu do estúdio. Então veio o Dance e, nas
épocas em que a banda estava mais parada apareceram os projetos
Bastard In Love e Awkward. O Bastard era mais toscão e a idéia
evoluiu até se tornar o que hoje é o Sick Terror. O Awkward
foi o que durou mais... era mais parecido com DOD, mas aí a banda
voltou a ensaiar e ficou difícil manter tudo... Acho que não
dá pra comparar, cada uma teve seu valor... a gente sempre tira
alguma coisa de qualquer tipo de experiência.
5)Fale
um pouco sobre a Teenager a Box e sobre as bandas que lançaram
cd por ela.
Nenê Altro - Bem, a Teenager In a Box surgiu
em 1997, era uma coisa despretensiosa, meio que só pra lançar
o CD do Personal Choice, que era minha banda e estava acabando na época...
mas aí apareceram outras bandas, a gente ia lançar o Small
Talk mas como eles já tinham fechado com outro selo acabamos lançando
o "6 First Hits" do Dance of Days... Depois foram os 2 cds do
Dominatrix, o No Class, a coletânea "The Fire Beneath The Machine"...
e por aí vai. Ano passado lançamos o novo do Dance e o split
Dance-Dominatrix e nesse ano queremos lançar uns 5 cd´s ainda,
com as bandas novas do cast da gravadora. Pra sair agora está o
primeiro cd do Contraponto, que se você gosta de punk rock bem feito
(ou som na linha Hot Water Music, Jawbreaker...) você não
deve deixar de ouvir, vou reprensar o primeiro do Deserdados "Revolução
Agora!" talvez com alguns bonus e já lançar também
o disco novo deles (que está mais fodão ainda, muito mais
Clash, Stiff, com umas influências reggae e ska), reprensar a nova
versão do "História Não Tem Fim" do Dance
of Days e, por fim, lançar o primeiro cd do Christalina, que é
uma mistura de rock indie com pop punk muito bem feita, vocal feminino
(aliás a vocalista é a Jan, que também é dona
da Teenager In a Box), lembra Get Up Kids...
6)E
o jornal Antimidia, vc já tinha feito algo no mesmo estilo? Acompanho
desde o começo e as mudanças são visíveis,
vc esperava toda essa aceitação que o jornal possui hoje
em dia?
Nenê Altro - Eu sempre escrevi. Desde 1986
eu faço fanzine. Fazia um na época chamado "O Auto-Didata",
tinha um fundo anarquista mas era muito pessoal... aí fiz outros,
"A Folha da Fossa", eu escrevia a maior parte do "Bigorn@!"
que era da Juli, tinha uns outros acho... "Rosa Negra", "Relief"...
um monte. O Antimidia é um projeto que eu tinha faz um tempo, desde
que eu tive contato com o Contra Corrente no final dos anos 80... mas
a idéia nunca vingava. Então resolvi mergulhar de cabeça
e está aí. Eu não esperava nenhum tipo de aceitação.
É claro que é bem legal ver que as pessoas gostam e tal,
mas eu fiz e faço ainda por necessidade de expressão mesmo...
acho que é isso.
7)Recentemente
vc teve problemas com uma entrevista que vc fez para o antimidia sobre
uma banda homosexual não foi? Fiquei impressionado com as cartas
que vc publicou sobre essa entrevista, fale um pouco sobre isso.
Nenê Altro - É. Essa foi uma da série
de entrevistas que negociei a tradução com a Maximum Rock'n'Roll,
com uma banda relativamente nova chamada Limp Wrist, que é uma
banda straight edge gay que tem a frente Martin, que foi vocalista do
Los Crudos. A entrevista é fodida mas muita gente ignorante se
sentiu ameaçada com a existência deles ou algo assim... acho
que o Dead Kennedys já tinha escrito sobre isso... Macho Insecurity
ou algo assim hahaha... Lamentável.
8)Ainda
falando sobre o Antimidia, qual a entrevista que você mais gostou
de ter feito?
Nenê Altro - Acho que não dá
pra saber isso. A minha idéia desde o começo foi entrevistar
as bandas precursoras do movimento, porque, viajando com a banda a gente
vê como as pessoas tem informações distorcidas das
coisas. Eu queria entrevistar todas as bandas lendárias pra mostrar
o que elas realmente são a todos... e acho que o projeto foi bem
sucedido. O Cólera foi bem legal... Olho Seco... Inocentes, Ratos,
Ulster... através do Antimidia eu me aproximei dos caras do Armagedom
que sempre foi uma das minhas bandas preferidas daqui... enfim, tudo valeu
muito a pena.
9)Vamos
falar sobre o primeiro registro do Dance of Days, "6 first hits",
faça uma comparação com o primeiro lançamento
(1999) e o segundo lançamento (2001).
Nenê Altro - 6 First Hits nasceu de algumas
músicas que eu tinha feito quando o Personal Choice ainda existia,
mais uma troca de idéias e arranjos com o Meirelles e todo mundo
da primeira line up. Esta formação durou pouco, nem um ano
acho, mas a banda e a idéia do projeto eu sempre mantive. Sei lá,
eu nunca quis que o Dance of Days fosse uma banda de "um só
hit" ou de "um só disco", daí veio a idéia
do nome "6 First Hits" (pra gente já começar com
6 hahaha). "A História Não Tem Fim" reúne
músicas que eu fiz entre 1998 e 2000 mais algumas que rolaram já
com essa última formação. Não vejo muita diferença,
acho que seguimos a mesma linha... como as bandas que nos influenciaram
na época, tipo, da mesma maneira que o Falling Forward seguiu ao
Elliott, o Split Lip ao Chamberlain e o Endpoint ao By The Grace Of God...
acho que foi a mesma coisa, mas não mudamos de nome.
10)No
release da banda, vc fala várias vezes sobre uma música
chamada "dust", o que aconteceu com ela? Virou outra música?
Foi gravada?
Nenê Altro - "Dust"? Hahahaha...
"Dust" foi a primeira música que eu fiz fora do esquema
Personal Choice. Sim, ela ganhou outra cara, um outro rítmo e acabou
se tornando "I Thought It Was Only A Brand New Start"... aquela
do Sometimes I Feel...
11)Fale
um pouco sobre aquele show no Alternative com Dance of Days, Dominatrix
e Landscape.
Nenê Altro - Acho que foi lançamento
do Girl Gathering não foi? Puxa, sei lá, casa cheia, todo
mundo cantando, as brigas que foderam tudo por anos ainda não tinham
rolado... 1997 foi um ano mágico... acho que é só
isso que eu posso dizer...
12)No show de relançamento do "6 first
hits" no hangar 110 em SP, vc mudou a letra da música "I
don´t give a fuck" para "Vai tomar no cú"
e dedicou para algumas pessoas que não acreditavam na volta da
banda, certo? Essas pessoas estavam no local e qual foi a reação
delas com o brand new start?
Nenê Altro - Não sei se essas pessoas estavam no local,
mas acho que foi uma resposta sarcástica aos que disseram que o
Dance tinha acabado e voltado pela grana e tal... A bosta é que
essas pessoas não são amigas nossas, não sabem como
é nosso dia a dia e nunca imaginaram que a banda pudesse nunca
ter acabado, que foi o que aconteceu... O Dance nunca acabou... deu uma
parada, mudou dezenas de vezes de formação, mas sempre rolava...
Rolou uma fofocaiada sim, mas acho que isso é até normal...
13)Qual
sua opinião sobre a cena underground atual no país?
Nenê Altro - Ah sei lá cara, é
meio complicado. Eu acho que tudo aqui ainda está estagnado. Eu
não acredito mais nesse negócio de "cena", pelo
menos não da maneira que acreditava anos atrás... Faço
parte sim de uma subcultura alternativa, pode-se dizer, punk, música
de garagem, essas coisas... mas não tenho mais o senso de comunidade
que eu já tive, e pra falar a verdade nem quero mais ter porque
todo mundo só quer é botar no seu cu. Eu me tornei um individualista
convicto, no sentido mais amplo da palavra, e isso se extende as minhas
atividades hãããã.... artísticas. Banda,
zine, essas coisas. Não dou mais opinião sobre o trabalho
dos outros, cada um faz o que quer e eu quero mais é que se foda.
Eu faço o que eu quero, se isso agrada beleza, vamos se divertir,
se isso incomoda foda-se, eu é que não vou dormir no tanque
porque algum hardcore político da vida me acha "cuzão"
hahahaha
14)Se
eu abrir o seu cd player agora, o que vou encontrar? Quais as suas influências?
Nenê Altro - Agora? Bem, agora... eu estou
escutando uma banda americana chamada Swiz, bem fodona... acho que sempre
foi uma de minhas prediletas também. Cara, eu ainda sou o moleque
Embrace, Endpoint, Falling Forward... pelo menos no que diz respeito ao
Dance of Days (no Sick Terror é outro papo). Porra, tenho escutado
muita coisa legal, New End Original, Jimmy Eat World, Alkaline Trio, Zero
Zero, ainda ouço At The Drive In (ainda mais agora, que a modinha
passou), sei lá... Jets To Brazil... essas coisas nessa praia aí.
15)O
que são exatamente aquelas gravações no final do
"6 first hits", de quem são as vozes?
Nenê Altro - A gente gravou "6 First
Hits" de madrugada no Anonimato. De repente a gente sacou que tinha
um telefone com viva voz lá e eu estava com meu inseparável
gravador de bolso. Umas 3 da manhã começamos a passar trotes
para uns amigos e foi aquilo que saiu no cd hahaha
16)O
que vc achou da gravação no musikaos? Foi o que vc esperava?
Eu estava lá e percebi que muitas pessoas questionaram quando vc
falou que o estilo da banda era punk, isso te incomoda? Qual sua posição
sobre isso?
Nenê Altro - Cara, eu sou uma pessoa que,
depois de 15 anos vendo a estagnação dominar a cena punk
a meu redor, quero mais é que o punk saia do gueto. Eu valorizo
pacas o Ratos, o Inocentes, 365... essas bandas que colocaram o pé
pra fora do cimento e estenderam a mão a quem queria conhecer coisas
novas. Eu acho mesmo que o punk tem que chutar o pagode das rádios,
tocar por toda a cidade, criar uma cultura alternativa e não ficar
fadado a eterna subcultura que somos até hoje. Um monte de gente
criticou a gente ter ido ao Muzikaos, porque é TV e tal... mas
muito mais gente escreveu pra gente e conheceu a banda através
do programa. Quem dá discurso dentro do poço nunca vai ver
o que tem do lado de fora... e o azar é deles. Uma pá de
gente fala que a gente "não é punk", que nosso
som é uma bosta e tal... tipo, os donos da patente do punk rock.
O azar é deles também pois não vamos parar de falar
que tocamos punk rock por causa deles. Pau no cu.
17)Vamos
falar sobre o novo cd "A historia não tem fim", fale
um pouco sobre ele, idéias, letras, nome do cd, composições
e canções em português.
Nenë Altro - Uma das coisas que me faz pensar
é em como as pessoas são ignorantes e saem falando merda
por aí antes de saber. Tipo, um monte de gente falou que a gente
começou a cantar em português porque quer seguir a moda e
tal, mas 80% desse disco foi composto entre 1998 e 1999 e essas músicas
já estavam em português... Caralho, chegamos a tocar algumas
outras que nunca foram gravadas em português ainda no final de 1997,
em diversos shows!!! Eu sempre gostei de compor em português. Quem
lembra do Awkward, que era um projeto que eu tinha paralelo com o Dance,
lembra que tínhamos várias músicas em português...
Tem gente que copia umas letras de bandas gringas, encaixa partes de letras
com outras e faz a letra em inglês porque ninguém nunca vai
se ligar... o foda é falar na cara da pessoa o que você quer
mesmo passar, falar na língua dela, sem se preocupar em soar mal
ou soar brega. A História Não Tem Fim é uma referência
poética a Gabriel Garcia Marquez em um de seus livros, quem conhece
a obra vai se ligar qual livro é... A primeira edição
teve 3000 cópias esgotadas e 11 músicas e a segunda, que
sai agora, foi remasterizada e tem todas as músicas que foram gravadas
naquela sessão de estúdio, num total de 15, incluindo as
do split com Dominatrix. sai agora em Março ou Abril.
18)Fale
um pouco das participações especias com a Isabella (Dominatrix)e
Janaina (Christalina).
Nenê Altro - Jan é minha esposa e Isabella
uma grande amiga. Sei lá achei que as músicas iam ficar
boas com elas, que tinha a ver colocar elas pra cantar por causa do clima
das composições e tal. Acho que o resultado final ficou
bem legal.
19)Quais
são os próximos projetos do Dance of Days?
Nenê Altro - Estamos compondo um disco novo.
Queremos manter o estilo mas buscar uma distribuição melhor,
que atinja um público que ainda não atingimos. O caminho
do Dance of Days é esse, ensaiar, compor, fazer muitos shows e
seguir sua estrada, sempre cada vez mais fora do gueto, dos dogmas e da
estagnação que matam o punk dia após dia.
20)Espaço
livre para falar o que quiser e deixar recados! Valeu pela entrevista
Nenê!!
Nenê Altro - Agradeço você pela
oportunidade e parabenizo pela atitude de fazer um zine, que é
algo muito foda. Sem os zines nada estaria vivo até hoje. Através
dos zines muitos de nós se conheceram e muitos laços foram
feitos. O recado é: não fuja dos dogmas da sociedade para
abraçar outros, viva sua vida porque você só tem uma
e não perca o tempo que você pode desfrutar namorando, se
divertindo ou curtindo um som atrofiado em fofocas e julgamentos sobre
a vida alheia. Obrigado a todo mundo que vai nos shows da banda, que faz
parte de nossas vidas e que faz tudo isso valer a pena. Nos vemos por
aí!
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