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Banda: DANCE OF DAYS
Data da entrevista: abril 2002
Entrevistador: Raphael Rodrigues (Alternative Noise)
Entrevistado: Nenê - vocal
Cidade/Estado: São Paulo

1) Qual a formação atual do Dance Of Days?
Nenê Altro - Atualmente o Dance of Days sou eu no vocal, Marcelo na Guitarra, Tyello na outra guitarra, Júlio na bateria e Fausto no baixo.

2) Por quantas formações a banda já passou?
Nenê Altro - Ixe Raphael, sei lá, umas 8 ou 10... Não sei direito.

3) De onde surgiu o nome da banda? De quem foi a idéia? Vcs chegaram a pensar em outro nome, qual?
Nenê Altro - Quando eu idealizei o projeto a idéia era fazer algo que soasse como um cruzamento entre Embrace e Endpoint... Estas talvez sejam minhas bandas preferidas até hoje. O nome Dance of Days vem de uma música do Embrace chamada Dance of Days ( ah, o Embrace é aquela banda punk de Washington DC, não a eletrônica Inglesa). Tinha uns outros nomes na fita... um era YEANBP, que era uma sigla que significava Your Emotions Are Nothing But Politics, que também vinha do Embrace... mas o bom senso falou mais alto e o nome que escolhemos ficou bem mais bonito hahahahaha

4)Falando sobre suas outras bandas Nenê, faça uma comparação entre elas, Personal Choice, Overcome, Sick Terror, Bastard in Love, Awkward e Dance...Esqueci alguma hehe?
Nenê Altro - Esqueceu umas 15 de antes do Personal Choice. Sei lá cada banda teve sua época, sua fase, ou melhor, representou alguma fase de minha vida. O Personal foi uma banda que eu curti pra caralho... mas teve seu tempo. Hoje eu não montaria outra parecida. Algumas das músicas que o Personal começou tocando vinham de uma outra banda que eu tinha antes chamada Repulsive, que também carregava músicas de bandas anteriores... Overcome durou poucos ensaios, foi meio um projeto também, meio Worlds Collide... mas não saiu do estúdio. Então veio o Dance e, nas épocas em que a banda estava mais parada apareceram os projetos Bastard In Love e Awkward. O Bastard era mais toscão e a idéia evoluiu até se tornar o que hoje é o Sick Terror. O Awkward foi o que durou mais... era mais parecido com DOD, mas aí a banda voltou a ensaiar e ficou difícil manter tudo... Acho que não dá pra comparar, cada uma teve seu valor... a gente sempre tira alguma coisa de qualquer tipo de experiência.

5)Fale um pouco sobre a Teenager a Box e sobre as bandas que lançaram cd por ela.
Nenê Altro - Bem, a Teenager In a Box surgiu em 1997, era uma coisa despretensiosa, meio que só pra lançar o CD do Personal Choice, que era minha banda e estava acabando na época... mas aí apareceram outras bandas, a gente ia lançar o Small Talk mas como eles já tinham fechado com outro selo acabamos lançando o "6 First Hits" do Dance of Days... Depois foram os 2 cds do Dominatrix, o No Class, a coletânea "The Fire Beneath The Machine"... e por aí vai. Ano passado lançamos o novo do Dance e o split Dance-Dominatrix e nesse ano queremos lançar uns 5 cd´s ainda, com as bandas novas do cast da gravadora. Pra sair agora está o primeiro cd do Contraponto, que se você gosta de punk rock bem feito (ou som na linha Hot Water Music, Jawbreaker...) você não deve deixar de ouvir, vou reprensar o primeiro do Deserdados "Revolução Agora!" talvez com alguns bonus e já lançar também o disco novo deles (que está mais fodão ainda, muito mais Clash, Stiff, com umas influências reggae e ska), reprensar a nova versão do "História Não Tem Fim" do Dance of Days e, por fim, lançar o primeiro cd do Christalina, que é uma mistura de rock indie com pop punk muito bem feita, vocal feminino (aliás a vocalista é a Jan, que também é dona da Teenager In a Box), lembra Get Up Kids...

6)E o jornal Antimidia, vc já tinha feito algo no mesmo estilo? Acompanho desde o começo e as mudanças são visíveis, vc esperava toda essa aceitação que o jornal possui hoje em dia?
Nenê Altro - Eu sempre escrevi. Desde 1986 eu faço fanzine. Fazia um na época chamado "O Auto-Didata", tinha um fundo anarquista mas era muito pessoal... aí fiz outros, "A Folha da Fossa", eu escrevia a maior parte do "Bigorn@!" que era da Juli, tinha uns outros acho... "Rosa Negra", "Relief"... um monte. O Antimidia é um projeto que eu tinha faz um tempo, desde que eu tive contato com o Contra Corrente no final dos anos 80... mas a idéia nunca vingava. Então resolvi mergulhar de cabeça e está aí. Eu não esperava nenhum tipo de aceitação. É claro que é bem legal ver que as pessoas gostam e tal, mas eu fiz e faço ainda por necessidade de expressão mesmo... acho que é isso.

7)Recentemente vc teve problemas com uma entrevista que vc fez para o antimidia sobre uma banda homosexual não foi? Fiquei impressionado com as cartas que vc publicou sobre essa entrevista, fale um pouco sobre isso.
Nenê Altro - É. Essa foi uma da série de entrevistas que negociei a tradução com a Maximum Rock'n'Roll, com uma banda relativamente nova chamada Limp Wrist, que é uma banda straight edge gay que tem a frente Martin, que foi vocalista do Los Crudos. A entrevista é fodida mas muita gente ignorante se sentiu ameaçada com a existência deles ou algo assim... acho que o Dead Kennedys já tinha escrito sobre isso... Macho Insecurity ou algo assim hahaha... Lamentável.

8)Ainda falando sobre o Antimidia, qual a entrevista que você mais gostou de ter feito?
Nenê Altro - Acho que não dá pra saber isso. A minha idéia desde o começo foi entrevistar as bandas precursoras do movimento, porque, viajando com a banda a gente vê como as pessoas tem informações distorcidas das coisas. Eu queria entrevistar todas as bandas lendárias pra mostrar o que elas realmente são a todos... e acho que o projeto foi bem sucedido. O Cólera foi bem legal... Olho Seco... Inocentes, Ratos, Ulster... através do Antimidia eu me aproximei dos caras do Armagedom que sempre foi uma das minhas bandas preferidas daqui... enfim, tudo valeu muito a pena.

9)Vamos falar sobre o primeiro registro do Dance of Days, "6 first hits", faça uma comparação com o primeiro lançamento (1999) e o segundo lançamento (2001).
Nenê Altro - 6 First Hits nasceu de algumas músicas que eu tinha feito quando o Personal Choice ainda existia, mais uma troca de idéias e arranjos com o Meirelles e todo mundo da primeira line up. Esta formação durou pouco, nem um ano acho, mas a banda e a idéia do projeto eu sempre mantive. Sei lá, eu nunca quis que o Dance of Days fosse uma banda de "um só hit" ou de "um só disco", daí veio a idéia do nome "6 First Hits" (pra gente já começar com 6 hahaha). "A História Não Tem Fim" reúne músicas que eu fiz entre 1998 e 2000 mais algumas que rolaram já com essa última formação. Não vejo muita diferença, acho que seguimos a mesma linha... como as bandas que nos influenciaram na época, tipo, da mesma maneira que o Falling Forward seguiu ao Elliott, o Split Lip ao Chamberlain e o Endpoint ao By The Grace Of God... acho que foi a mesma coisa, mas não mudamos de nome.

10)No release da banda, vc fala várias vezes sobre uma música chamada "dust", o que aconteceu com ela? Virou outra música? Foi gravada?
Nenê Altro - "Dust"? Hahahaha... "Dust" foi a primeira música que eu fiz fora do esquema Personal Choice. Sim, ela ganhou outra cara, um outro rítmo e acabou se tornando "I Thought It Was Only A Brand New Start"... aquela do Sometimes I Feel...

11)Fale um pouco sobre aquele show no Alternative com Dance of Days, Dominatrix e Landscape.
Nenê Altro - Acho que foi lançamento do Girl Gathering não foi? Puxa, sei lá, casa cheia, todo mundo cantando, as brigas que foderam tudo por anos ainda não tinham rolado... 1997 foi um ano mágico... acho que é só isso que eu posso dizer...


12)No show de relançamento do "6 first hits" no hangar 110 em SP, vc mudou a letra da música "I don´t give a fuck" para "Vai tomar no cú" e dedicou para algumas pessoas que não acreditavam na volta da banda, certo? Essas pessoas estavam no local e qual foi a reação delas com o brand new start?
Nenê Altro - Não sei se essas pessoas estavam no local, mas acho que foi uma resposta sarcástica aos que disseram que o Dance tinha acabado e voltado pela grana e tal... A bosta é que essas pessoas não são amigas nossas, não sabem como é nosso dia a dia e nunca imaginaram que a banda pudesse nunca ter acabado, que foi o que aconteceu... O Dance nunca acabou... deu uma parada, mudou dezenas de vezes de formação, mas sempre rolava... Rolou uma fofocaiada sim, mas acho que isso é até normal...

13)Qual sua opinião sobre a cena underground atual no país?
Nenê Altro - Ah sei lá cara, é meio complicado. Eu acho que tudo aqui ainda está estagnado. Eu não acredito mais nesse negócio de "cena", pelo menos não da maneira que acreditava anos atrás... Faço parte sim de uma subcultura alternativa, pode-se dizer, punk, música de garagem, essas coisas... mas não tenho mais o senso de comunidade que eu já tive, e pra falar a verdade nem quero mais ter porque todo mundo só quer é botar no seu cu. Eu me tornei um individualista convicto, no sentido mais amplo da palavra, e isso se extende as minhas atividades hãããã.... artísticas. Banda, zine, essas coisas. Não dou mais opinião sobre o trabalho dos outros, cada um faz o que quer e eu quero mais é que se foda. Eu faço o que eu quero, se isso agrada beleza, vamos se divertir, se isso incomoda foda-se, eu é que não vou dormir no tanque porque algum hardcore político da vida me acha "cuzão" hahahaha

14)Se eu abrir o seu cd player agora, o que vou encontrar? Quais as suas influências?
Nenê Altro - Agora? Bem, agora... eu estou escutando uma banda americana chamada Swiz, bem fodona... acho que sempre foi uma de minhas prediletas também. Cara, eu ainda sou o moleque Embrace, Endpoint, Falling Forward... pelo menos no que diz respeito ao Dance of Days (no Sick Terror é outro papo). Porra, tenho escutado muita coisa legal, New End Original, Jimmy Eat World, Alkaline Trio, Zero Zero, ainda ouço At The Drive In (ainda mais agora, que a modinha passou), sei lá... Jets To Brazil... essas coisas nessa praia aí.

15)O que são exatamente aquelas gravações no final do "6 first hits", de quem são as vozes?
Nenê Altro - A gente gravou "6 First Hits" de madrugada no Anonimato. De repente a gente sacou que tinha um telefone com viva voz lá e eu estava com meu inseparável gravador de bolso. Umas 3 da manhã começamos a passar trotes para uns amigos e foi aquilo que saiu no cd hahaha

16)O que vc achou da gravação no musikaos? Foi o que vc esperava? Eu estava lá e percebi que muitas pessoas questionaram quando vc falou que o estilo da banda era punk, isso te incomoda? Qual sua posição sobre isso?
Nenê Altro - Cara, eu sou uma pessoa que, depois de 15 anos vendo a estagnação dominar a cena punk a meu redor, quero mais é que o punk saia do gueto. Eu valorizo pacas o Ratos, o Inocentes, 365... essas bandas que colocaram o pé pra fora do cimento e estenderam a mão a quem queria conhecer coisas novas. Eu acho mesmo que o punk tem que chutar o pagode das rádios, tocar por toda a cidade, criar uma cultura alternativa e não ficar fadado a eterna subcultura que somos até hoje. Um monte de gente criticou a gente ter ido ao Muzikaos, porque é TV e tal... mas muito mais gente escreveu pra gente e conheceu a banda através do programa. Quem dá discurso dentro do poço nunca vai ver o que tem do lado de fora... e o azar é deles. Uma pá de gente fala que a gente "não é punk", que nosso som é uma bosta e tal... tipo, os donos da patente do punk rock. O azar é deles também pois não vamos parar de falar que tocamos punk rock por causa deles. Pau no cu.

17)Vamos falar sobre o novo cd "A historia não tem fim", fale um pouco sobre ele, idéias, letras, nome do cd, composições e canções em português.
Nenë Altro - Uma das coisas que me faz pensar é em como as pessoas são ignorantes e saem falando merda por aí antes de saber. Tipo, um monte de gente falou que a gente começou a cantar em português porque quer seguir a moda e tal, mas 80% desse disco foi composto entre 1998 e 1999 e essas músicas já estavam em português... Caralho, chegamos a tocar algumas outras que nunca foram gravadas em português ainda no final de 1997, em diversos shows!!! Eu sempre gostei de compor em português. Quem lembra do Awkward, que era um projeto que eu tinha paralelo com o Dance, lembra que tínhamos várias músicas em português... Tem gente que copia umas letras de bandas gringas, encaixa partes de letras com outras e faz a letra em inglês porque ninguém nunca vai se ligar... o foda é falar na cara da pessoa o que você quer mesmo passar, falar na língua dela, sem se preocupar em soar mal ou soar brega. A História Não Tem Fim é uma referência poética a Gabriel Garcia Marquez em um de seus livros, quem conhece a obra vai se ligar qual livro é... A primeira edição teve 3000 cópias esgotadas e 11 músicas e a segunda, que sai agora, foi remasterizada e tem todas as músicas que foram gravadas naquela sessão de estúdio, num total de 15, incluindo as do split com Dominatrix. sai agora em Março ou Abril.

18)Fale um pouco das participações especias com a Isabella (Dominatrix)e Janaina (Christalina).
Nenê Altro - Jan é minha esposa e Isabella uma grande amiga. Sei lá achei que as músicas iam ficar boas com elas, que tinha a ver colocar elas pra cantar por causa do clima das composições e tal. Acho que o resultado final ficou bem legal.

19)Quais são os próximos projetos do Dance of Days?
Nenê Altro - Estamos compondo um disco novo. Queremos manter o estilo mas buscar uma distribuição melhor, que atinja um público que ainda não atingimos. O caminho do Dance of Days é esse, ensaiar, compor, fazer muitos shows e seguir sua estrada, sempre cada vez mais fora do gueto, dos dogmas e da estagnação que matam o punk dia após dia.

20)Espaço livre para falar o que quiser e deixar recados! Valeu pela entrevista Nenê!!
Nenê Altro - Agradeço você pela oportunidade e parabenizo pela atitude de fazer um zine, que é algo muito foda. Sem os zines nada estaria vivo até hoje. Através dos zines muitos de nós se conheceram e muitos laços foram feitos. O recado é: não fuja dos dogmas da sociedade para abraçar outros, viva sua vida porque você só tem uma e não perca o tempo que você pode desfrutar namorando, se divertindo ou curtindo um som atrofiado em fofocas e julgamentos sobre a vida alheia. Obrigado a todo mundo que vai nos shows da banda, que faz parte de nossas vidas e que faz tudo isso valer a pena. Nos vemos por aí!

Discografia:
em breve!